XLIX - Meto-me para Dentro
Meto-me para dentro, e fecho a janela.
Meto-me para dentro, e fecho a janela.
      Trazem o candeeiro e dão as boas noites, 
     E a minha voz contente dá as boas noites.
      Oxalá a minha vida seja sempre isto:
      O dia cheio de sol, ou suave de chuva,
      Ou tempestuoso como se acabasse o Mundo,
     A tarde suave e os ranchos que passam
      Fitados com interesse da janela,
      O último olhar amigo dado ao sossego das árvores,
      E depois, fechada a janela, o candeeiro aceso,
      Sem ler nada, nem pensar em nada, nem dormir,
      Sentir a vida correr por mim como um rio por seu leito.
      E lá fora um grande silêncio como um deus que dorme.
Alberto Caeiro
 
 

Nenhum comentário:
Postar um comentário