sexta-feira, 24 de setembro de 2004

Metade de mim

METADE

E que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que sei
Que a morte de tudo que acredito
não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio

Que a música que eu ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo
Seja pra sempre amada mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
e a outra é saudade

Que as palavras que eu falo não seja ouvidas como prece
Nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimento
Porque metade de mim é o que ouço
mas a outra metade é o que calo

Que essa minha vontade de ir embora
se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que penso
e a outra metade é um vulcão

Que o medo da solidão se afaste
Que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que me lembro ter dado na infância
Porque metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade eu não sei

Que seja preciso mais que uma simples alegria
Para me fazer aquietar meu espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
mas a outra metade é cansaço
Que a arte me aponte uma reposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade
para faze-la florescer

Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção
E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
e a outra metade também

OswaldoMontenegro

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