quarta-feira, 2 de fevereiro de 2005

Da dor

Em resposta a sua exclamação e interrogação de como aguentar tamanha dor, ouso publicar com seu aval, parte de minha reposta de antiga correspondência. Não com a intenção de remexer nossas dores e fantasmas, mas de clarear e dividir o conforto que quiçá tivéramos com amigos e grandes parceiros de caminhada:Pé, Axé, Vini, Déinha e Cris, e a quem por tanto sofrimento passa como passamos:

"Não sei Chico, o que posso dizer é de mim, minha história é assim:

Uma vez perdi uma namorada e achei que isso era dor demais,
depois, mas não no tempo, perdi um ano no colégio, um na faculdade, uma outra namorada,
Meu pai, a mulher da minha vida, o emprego, a minha carreira
Se tudo é relativo... relativa também é a idéia que faço da minha dor e da minha felicidade...

Às vezes, pra mim, a solidão é necessária, Chico.
Não aquela solidão que eu juro por Deus que eu não mereço,
mas aquela mais funda, mais dolorida, mais existencial.
Aquela dor que me pergunta de onde eu vim,
para onde eu vou, quem sou eu, o que vim fazer aqui?

Nessas horas minhas respostas ficam sem perguntas.
Meus amores ficam sem pessoas,
fica um sentimento gentil pelo mundo...despersonalizado

Quase que entendo que tudo passa...quase sei que depois melhora...
Quase admito a morte, o fim, a vitória na derrota, a dor e a doença...
outra face da paz, do amor e da alegria.

Mas Quase é muito perto do Nunca...
ambos tendem ao infinito...

Nunca mais posso abraçar meu pai...
não posso deitar no seu colo e perguntar como são as coisas...
Não consigo mais ouvir seus conselhos,
sua mão doce acariciando minha cabeça que dói de sempre bater...

E quase sempre me pego pensando...
quase passei num concurso....
quase casei....
Quase ganhei na loteria....

Mas acredito - e acreditar é o que me mantém,
que tudo é impermanente...vai e vem...
numa dança Universal, cósmica...
Dor e amor são dois lados da mesma moeda que fica girando no ar sem parar...

Dói...
dor de saudades...
dor de quem perdeu o filho
dor do braço amputado que belisca
dor do parto, ... da morte
dor de dente,
de gente que não mais está aqui...

Sufoca de um tanto que não dá nem pra pensar...
dói só de pensar
é isso ...
Dor é uma coisa que não sei ensinar como sofrê-la, nem sequer sei sofrê-la.
Dor é um em dois : um sentimento em dois tempos
a dor de agora que dói no arrancar ...
E a dor do depois, que dói sempre e tanto que a única coisa que se tem a fazer,
é aprender a conviver com ela.

Viver não é preciso,
Quisera ser um barco
Olhando pro céu
abrindo os braços ao vento
deixando cair a noite em minhas vela
o céu fica em festa toda noite
e de manhã vem o sol
rasgar e estapear minha cara
num bom dia irresistível de se viver

E que vivamos dia a dia
da melhor forma que conseguimos

E la nave va."

Ps:
Axé - tá td blz,
Só repassei em publicação
Para os poucos que lêem
Uma msg de amor

Beijo do Zé

E me orgulho de beijar
aqueles em que reconheço
qualidades
tais quais as reconheci
em meu pai

:O)

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