quarta-feira, 14 de junho de 2006

Vedánta Adwaita

Outra escola filosófica que ajudou a muitos que se recuperaram das penas de suas vidas traumatizadas, fragilizadas, tristes e enfermiças... é o Vedánta Adwaita. Vedánta é a filosofia baseada na parte final (anta) dos Vedas, isto é, nas Upanishads. Adwaita significa não-dualismo ou monismo. Para essa filosofia, só existe um Ser, e Ele é Um “sem-um-segundo”. É Uno e Único. Assim, tudo o que existe é o próprio Ser ou Brahman (o Imenso); e nada existe fora d’Ele.

Cada um de nós é um jiva, isto é, uma alma em processo evolutivo. E a evolução consiste em, progressivamente, superar o estado dualista de consciência, que nos ilude, fazendo-nos crer que somos diferentes e estamos distantes uns dos outros e também distintos e alienados do Ser.O que no Yoga vimos chamar-se asmita aqui é chamado ahamkara, o ego pessoal, o qual nos detém no estado da dualidade.

O Ser Supremo é também chamado Sat-Chit-Ananda. Sat é Essência ou Verdade; Chit é a Consciência Absoluta; e Ananda, a Perfeita Felicidade. Em cada um de nós, o Atma é centelha do eterno e infinito Sat-Chit-Ananda.
Por um lado, em realidade, somos o próprio Atma, que é idêntico a Sat-Chit-Ananda; por outro, em aparência convincente, somos incapazes de nos apercebermos disso. Vítimas do sortilégio do ego pessoal (ahamkara), convencidos estamos de que somos nosso corpo, nossa mente e nosso intelecto. Esse auto-embuste é que nos sentencia a “sofrermos fome em um país distante”, conforme a expressão da parábola do “Filho Pródigo”, isto é, a continuarmos subjugados pelo sofrimento (dukha).
Duas imagens das Upanishads têm me ajudado a auxiliar pessoas que viviam mergulhadas em estados neuróticos. Essas duas alegorias explicam melhor o que acabei de tentar explicar sobre a dualidade e sobre a não-dualidade.

A primeira descreve que um indivíduo, ao entrar num lugar de penumbra, foi terrivelmente impactado pela presença agressiva de uma cobra quase a seus pés, respondendo com a morbidez do organismo para a “luta ou fuga”, conforme estudamos ao tratar do processo do estresse. À medida, porém, seus olhos foram se acomodando, o corpo também foi se acomodando, se acalmando, pois verificou – com que alívio! – que não era uma ameaçadora cobra, mas uma inofensiva corda.

Na sua própria vida, leitor, quantas falsas cobras já o perturbaram? Ou ainda o perturbam? O Vedánta Adwaita nos adverte para que não continuemos a reagir às aparências, pois são como miragens no deserto. Tudo o que existe é falácia e impermanência. Só o Ser (Deus) é real e eterno.
A outra imagem é a da árvore e dos dois pássaros (2). Numa mesma árvore moram dois pássaros. Um, nos ramos mais baixos, vive sofregamente a comer os frutos, investindo todo seu tem, suas energias e habilidades na caça aos mesmos. Quando come um saboroso, exulta. Quando come um amargo, se deprime. O outro pássaro, da mesma raça, vive nos ramos mais altos. Ele é sereno, imperturbável, eqüânime, feliz, atento. É uma testemunha silente de tudo que se passa com o outro.
Na árvore que é nossa vida, o pássaro de baixo é nosso ahamkara (eu inferior, egoísmo), que vive prisioneiro da alternância dos opostos da existência: alegria-tristeza; lucro-perda; nascer-morrer; dia-noite; agrado-desagrado; euforia-disforia. Sempre raga (apego) - dwesha (rejeição)... O pássaro sábio, calmo, sóbrio, eqüânime, imperturbável e feliz é nosso verdadeiro Ser, o Atma, aquilo que, em realidade e não em fantasia, essencialmente somos.
A logoterapia, em certo aspecto, consiste em libertar-nos da ilusão de que somos o pássaro caçador de frutos, tão frágil, tão aflito e tão vulnerável e, simultaneamente, recobrar-nos a “Verdade que liberta” e que diz que, em realidade, somos o pássaro de cima: o Atma.Em termos de ciência vêdica, essa percepção ou sabedoria é a verdadeira metanóia que nos pode salvar.
Pita Ji

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